quarta-feira, 11 de junho de 2014

A História do Berimbau

Pesquisando um pouco o nosso passado através da história, percebemos que nem sempre o berimbau esteve ligado à Capoeira e que nela foi incorporado, primeiramente, no estado da Bahia. Fomos buscar, nas Artes Plásticas, um reforço para essa afirmação: numa aquarela de 1826 do pintor e desenhista francês Debret, que viveu no Brasil entre 816 e 1831, aparece um tocador de berimbau, cego, pedindo esmola, bem distante do contexto da Capoeiragem. Na mesma época, em gravura, Rugendas retrata o jogo da Capoeira, acompanhado apenas por um pequeno tambor, sem a presença do berimbau.
    Hoje, esse instrumento musical é sinônimo de Capoeira e não se admite um jogo ou uma roda sem a sua presença.
    Segundo vários estudiosos que trataram do tema, o berimbau é originário da África, existindo em várias regiões daquele continente. Como outros instrumentos utilizados em manifestações afros, foi introduzido em nosso país pelos negros que para aqui vieram como escravos.
 ”“… ô pega esse Gunga / me venda ou me dê /esse Gunga é meu / eu não posso vendê.”.
     Na Capoeira Angola, velhos mestres como Valdemar da Liberdade, Pastinha, Canjiquinha, Caiçara, Paulo dos Anjos, Gigante, Cobrinha Verde e outros afirmam que a orquestra é composta por três berimbaus diferentes em tamanho: um pequeno  (Viola); um médio (Gunga); um grande (Berra-boi). Os três berimbaus são uma tentativa de se dar um caráter de orquestra à roda: o  Viola apenas dobra, com seu som agudo; o médio, Gunga, sola; o Berra-boi faz o grave.
    Já mestre Bimba, em sua Capoeira Regional, só permitia um berimbau, que podia ser o Gunga ou o Viola acompanhado por dois pandeiros. Uma particularidade dos berimbaus feitos pelo mestre Bimba é que não podiam ser pintados. Ele sempre dizia que “Berimbau pintado perde a voz”. Seus berimbaus eram, apenas, envernizados.
    Convém lembrar que o que caracteriza o Berimbau como grande médio ou pequeno é o tamanho da cabaça.
    Dois pandeiros são também obrigatórios na roda, além dos caxixis que acompanham os berimbaus.
    Outros instrumentos como o atabaque, agogô e reco-reco são facultativos e dependem da aprovação ou não do mestre.
    Os vários toques de berimbau, escolhidos para o jogo da Capoeira, variam de acordo com a preferência do mestre. Valdeloir Rêgo, em pesquisa de 1968, depois de entrevistar mestres como Bimba e Pastinha, entre outros, conseguiu esta lista de toques: Angola – São Bento Grande – São Bento Pequeno – Cavalaria – Iúna – Amazonas – Santa Maria – Benguela – Angolinha – Ave Maria – Samongo – Angola em Gêge – São Bento Grande Gêge – Muzenza – Iejexá – Assalva – Estandarte – Gêge – Cinco Salomão – Angola-Pequena – Benguela Sustenida.  .
     Na Capoeira Angola, apenas os toques Angola, São Bento Grande e São Bento Pequeno são realmente utilizados para o jogo e reconhecidos por todos. O ritmo desses toques é acelerado ou diminuído, fazendo com que o jogo fique rápido ou lento.
    Mestre Bimba tocava sempre o “São Bento Grande” para jogos mais rápidos, tanto de alunos formados como de calouros. É o toque que caracteriza a Regional. A Benguela servia para jogos lentos, floreados. O toque Iúna, de ritmo médio, era só para alunos formados e exigia-se que os jogadores aplicassem, pelos menos, um dos balões ensinados. Outros toques como Amazonas, Santa Maria e Idalina, raramente eram tocados. O Cavalaria anunciava a aparição de um estranho à roda. Porém, logo depois, o mestre voltava ao São Bento Grande, vício dos velhos tempos.
Para a confecção de um berimbau, são necessários os seguintes materiais:
(A) Madeira (Biriba, Araçá, Tapioca, entre outras, para o arco);
(b) Arame de aço (tirados de pneus, segundo os mestres, são os melhores);
(c) Cabaça (Lagenaria vulgaris);
(d) Barbante (para fixar a cabaça ao arco de madeira e também o arame de aço à madeira);
(E) Couro (sola) para ser colocado dentro da cabaça, a fim de que o barbante não corte a mesma e, também, para se colocar em uma das extremidades da madeira para que o arame de aço nela não penetre;
(f) Cola (para fixar o couro à Cabaça);
(g) Taxas (02) para fixar o couro à madeira;
(h) Uma vareta de madeira flexível para percutir o arame de aço;
(i)  Um dobrão (moeda) para fixar os sons, quando encostado-se ao arame de aço.

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